28 de fev. de 2012

Maria Bonita


Maria Bonita
mulher brasileira
um tanto guerreira,
um tanto mulher


Maria Bonita
viajando na estrada
andando a cavalo,
fazendo café


Maria Bonita
por dentro e por fora
mulher valorosa,
cheirosa demais


Maria Bonita
levanta mulher
o dia raiou
e a manhã despertou


Maria Bonita
costura uma roupa
borda uma rosa amarela
na manga da blusa
e também na lapela


Maria Bonita
de lábios carnudos
contorna a sua boca
de vermelho romã


Maria Bonita
penteia o cabelo
ajeita os seus cachos
e pinta as unhas das mãos


Maria Bonita
pega a sua bolsa 
bota nela suas tralhas
que te fazem mais bela


Bonita Maria
Maria Bonita
mais bonita que bela
a sorrir na aquarela


O trabalho que me inspirou a construir esta poesia acima, que pode servir também como letra de uma canção, foi uma série de quatro almofadinhas que criei para a designer de bolsas SERPUI MARIE. O objetivo dela era transformar estes pequenos objetos em um mimo a ser pendurado do lado de fora das bolsas, de forma isolada ou então em cachos.


Serpui é referência de bolsas de qualidade, bom gosto e - acima de tudo - originalidade no mundo inteiro. Coleciona artigos e editoriais em revistas de moda de diversos países, incluindo o Brasil. Suas criações são fortes e se apropriam com muita frequência e propriedade de materiais encontrados em nossa flora.


Serpui tinha por desejo fazer estas pequenas almofadas com elementos do universo feminino e queria que os mesmos remetessem à um universo vintage. Fizemos uso então de desenhos antigos de um conjunto de escova e pente; um vidro de esmalte; um batom; e uma pequena bolsa. 


Esta bolsa, em especial, foi desenvolvida tomando-se como base uma relíquia de sua avó, feita em porcelana.


Todas as almofadas têm do lado oposto ao do desenho o nome da designer bordado e, abaixo dele, a inscrição: made in Brazil.


O fundo das mesmas é off-white e o bordado em ouro rhodia, com exceção da bolsinha, cujo bordado é em ouro metálico.

25 de fev. de 2012

P, M, G ou GG: Cabe em sua cabeça uma coroa?


O tema a ser tratado neste post - monarquia - sempre me interessou bastante e - desde pequeno - foi motivo de muita fantasia, principalmente durante as viagens de férias que fazia na companhia de meus pais por localidades como Petrópolis, RJ, Tiradentes, Ouro Preto, Vila Rica, Mariana e Sabará, MG, e a cidades históricas do Norte e Nordeste.



Lembro-me que - em visitas a igrejas, museus e casas pertencentes a personalidades da história - era um dos últimos integrantes da família ou dos grupos de turistas reunidos que deixava os locais de visitação. Queria passar a mão nas peças expostas, ver com muita profundidade a paisagem de cada quadro, ler minuciosamente cada carta, bilhete, livro ou anúncio de jornal da época.


 Tudo, absolutamente tudo referente ao passado me interessava. Era como se através destes locais e objetos pudesse me transportar à época da colonização e vivenciar cada uma daquelas situações.


 Hoje fico a pensar se este tipo de imersão em um passado do qual não fizera parte não poderia representar uma certa fuga, um alívio para os problemas presentes enfrentados por mim e que muitas vezes gostaria de poder esquecer ou deixar em segundo plano. Mas isto, deixo para a minha analista avaliar.


 No Brasil, fomos governados por dois imperadores: Pedro I e Pedro II. Nunca me esquecerei da emoção que senti ao ver exposta ali,na minha frente, a coroa que pertencera a Dom Pedro II, toda feita em ouro e cravejada de pérolas e pedras preciosas. Ela era - em si - a representação máxima do luxo, do poder, da exclusividade e do glamour vivido por aquela gente.


 Mas deixando as coroas e os monarcas do passado de lado e voltando-se para o presente, quero dizer que depois de muitos anos de vida, terapia, estudos, bons professores, amigos, familiares, pessoas interessadas, iluminadas e preparadas que encontrei pelo caminho, cresci e amadureci e penso que não cabe à ninguém nesta vida ser coroado. Pelo menos não com uma coroa física como a que vi no palácio imperial de Petrópolis. Que me desculpem os amantes das monarquias, todos os príncipes, princesas, reis e rainhas que ainda existem pelo mundo afora e os que ainda esperam para vir a ser coroados.

Para mim, reis e rainhas somos cada um de nós mesmos quando alcançamos a tão sonhada liberdade, através da responsabilidade que é conduzir e governar as nossas próprias vidas. E se é para coroar alguém que não seja nós mesmos - e mesmo assim, de forma simbólica - que sejam aquelas pessoas que dedicam e doam suas próprias vidas para as causas humanitárias, incluindo aí a cura e erradicação de todas as doenças físicas, mentais e espirituais e da vergonhosa miséria que ainda aflige grande parte da população mundial. À todos os demais, desculpem-me, mas as coras que existem no mundo não cabem em suas cabeças, grandes, médias ou pequenas.


O tecido que inspirou-me a fazer a crônica acima foi criado para a marca de acessórios SANTA LOLLA, com o objetivo de vir a forrar as paredes de suas lojas. Apresentei a eles dois temas, este da coroa e um outro de flor-de-lis (já mostrado aqui). O eleito para aquele trabalho foi o tecido flor-de-lis.


Este tecido foi feito em algumas variantes de cores, algumas em tom-sobre-tom, como a vermelha aqui exposta...


...e outras em fundo preto, carvão e cinza claro, com as coroas em ouro metálico.


No caso das variantes em tom -sobre- tom, utilizei-me do recurso de fazer o desenho em fio de lã acrílica, para que viesse a ter um volume maior e também um contraste maior entre as  cores. Além do vermelho, foi feito uma variante em preto e uma em cinza escuro.


Fazendo uma pesquisa para este post, encontrei uma revista francesa (Maisons Coté Quest) de meu acervo para poder mostrar-lhe como fica uma parede forrada com uma estampa forte, de grandes proporções como a nossa.


Depois, fiz um desenho em giz de cera para ilustrar o como ficaria a mesma parede com a nossa estampa.


PS: As quatro ilustrações iniciais deste post foram extraídas do site do Museu Imperial.

23 de fev. de 2012

Edward, um arquiteto cheio de sonhos e projetos.


Cidade de Nova York, anos 30. Sentado à mesa de um café na esquina da W 56 th St com a 5 th Ave...

cafeteria estilo NY anos 30, by Beto Tozzi
New York by by Samuel Fuller

...pude ver quando o jovem arquiteto sentado na mesa ao lado abriu uma planta onde se podia se ver um edifício no estilo art-decó. Com uma lapiseira em punho, ia descrevendo ao homem sentado à sua frente detalhes do projeto. A lapiseira, de tempo em tempo, parava em uma parte específica do desenho, aguardando as elucidações técnicas do mesmo. Àquela altura, eu era um repórter novato do New York Times, circulando pela cidade à procura de um furo de reportagem que pudesse ascender-me à uma posição de maior destaque no jornal.

New York by Samuel H. Gottscho

Entendo perfeitamente não ser elegante ficar ouvindo a conversa alheia em lugares públicos, mas confesso que este era um de meus vícios preferidos. Algo que - ao meu entender - fazia-me aprender sobre as situações mais corriqueiras do cotidiano, e vir até a poder decifrar alguns enigmas intrincados acerca da natureza humana. E você já deve saber que a alma de um repórter é - em sua essência - investigativa e - portanto - muito suscetível à este tipo de exercício.

New York by Anton Schutz

Em dado momento, o arquiteto esqueceu a lapiseira em cima da planta, e começou a traçar um diálogo com seu companheiro sobre um dilema que estava vivendo em seu casamento. Enquanto o amigo era todo ouvidos, o arquiteto, a quem chamaremos aqui de Edward, começou a discorrer sobre o tema. Sua esposa não trabalhava fora e era a responsável pela criação de sua pequena filha, que ficava aos seus cuidados. Na noite anterior tiveram uma acirrada discussão que terminara com a ameaça da esposa em deixar o apartamento do casal e ir de vez para a casa de seus pais, levando com  ela (lógico) a filha. O motivo da briga era a falta de tempo e atenção que - segundo a esposa - Edward dedicava ao casamento e - em extensão - à filha. Passava noites a dentro no escritório a implementar projetos e - nos finais de semana com frequência - ao invés de curtir a família - ficava visitando as obras em andamento.

Chrysler buildig - detalhes arquitetônicos

Edward explicava ao amigo que - não querendo se justificar - se sentia na obrigação de se dedicar intensamente ao trabalho, uma vez que sabia de sua responsabilidade para com o sustento da família e - não deixando de lado - entendia o prazer avassalador que sentia pela sua profissão, que dava-lhe a oportunidade de vencer e suplantar desafios, construindo edifícios que lhe enchiam de orgulho. Seu escritório de arquitetura já estava ganhando notoriedade na cidade pela qualidade e beleza dos trabalhos realizados.

New York by J. Elias

Enquanto via seu casamento ruir, Edward tinha que aprender a lidar com a imensa culpa que sentia por tudo o que estava acontecendo e ainda administrar a impotência de não encontrar uma boa resposta para por fim ao seu drama familiar.

O amigo, cigarro aceso na mão - tentava confortá-lo, dizendo que este drama também já fora vivido e superado por ele, que rompera o seu casamento de 10 anos, após saber que a mulher o traia com um colega de trabalho. Justificativa: falta de compatibilidade na cama. Falta de desejo. Falta de libido e sabe-se lá mais o quê. O que fazer quando a mulher acha que encontra no outro o predicado que não cabe a você. Final da estória: saí dali sem nenhum furo de reportagem, levando comigo uma baita dor de cabeça de quem estava engatinhando uma relação com uma colega de profissão que não me parecia naquele momento, a mulher com quem desejaria viver até os "últimos anos de minha vida". O que fazer?


O tecido de inspiração art-decó que me inspirou a criar o texto acima é este, feito especialmente para a marca de lingerie de extremo bom gosto e sofisticação: LUTÉCIA.



Ele foi construído sobre base de algodão cru, tendo o desenho sido feito em duas variantes de cor: café e ouro rhodia trilobal; e verde-oliva e havana trilobal.

Nota: também já produzi as etiquetas da marca.

20 de fev. de 2012

Alice. A menina que vi no muro da escola.


Encontrei este grafite no muro de uma escola pública, em São Paulo. Achei-o bonito, apesar da personagem principal, Alice, estar com o rosto não concluído. Resolvi fotografá-lo, sem saber ao certo o que faria com ele. Isto acontece constantemente e - mais cedo ou mais tarde - a oportunidade aparece e tudo fica tão claro que às vezes fico até assustado.

Alice no País das Maravilhas era um livro que não me atraia. Achava confuso e acredito eu, nunca o li por inteiro. Tinha apenas uma vaga ideia de seu conteúdo.

Quando escrevi a estorinha deste post, estava em companhia de minha filha, Marina, e confesso, comecei a escrever sem noção do que falaria. Acabou saindo esta estória, que de uma forma ou outra, tem pontos de coincidência com a estória original. Longe de querer parecer arrogante ou pretender fazer algo "melhor" (o que não conseguiria), apenas contarei aqui a estória de minha Alice, aquela que encontrei no muro da escola.


Alice era uma menina tímida, reservada. Estava sendo criada pela avó materna, já que a mãe trabalhava pesado o dia todo, como a maioria das mães naquele país.

Todas as tardes, a partir das 16:00, lá estava a avó a esperar Alice no portão da escola.

A escola era pública, já que os proventos da mãe não possibilitavam colocar a filha em uma escola particular. Mas Alice era feliz. Boa aluna, focada, não costumava apresentar dificuldades nas matérias ensinadas.

Certa tarde, ao ir ao banheiro da escola, deparou-se com uma menina em frente ao espelho que nunca vira antes. Apesar de não conhecê-la, Alice achou-a familiar. Ela começou a conversar com Alice, perguntando-lhe se teria um tempo para acompanhá-la à um bosque, logo ali, nas proximidades. Alice, mesmo sabendo que a avó estava a lhe esperar, aceitou o convite.

Quando deu por si, estava andando em um bosque encantado, em meio a duendes, fadas e anões. Alice ficou encantada com todas aquelas maravilhas. Entrou em um lindo castelo, onde conheceu a rainha de copas...


subiu ao monte de chocolate cremoso, onde experimentou brigadeiros que pendiam das árvores feito frutas; brincou com a varinha-de-condão que as fadas lhe emprestaram, tendo feito três pedidos que foram prontamente atendidos.


As horas, não preciso dizer, passaram voando e, quando Alice viu, estava de volta ao lado da amiga, sentada em um banco de uma das alamedas do bosque.

Foi quando Alice perguntou à amiga qual era o seu nome e de onde tinha vindo, já que nunca a tinha visto na escola.

Meu nome é Alice, disse a menina, para espanto de Alice, a nossa personagem. E venho do País das Maravilhas.

É mesmo?, disse Alice? E a amiga então continuou: Eu sou você mesma e apareço sempre que você deixa de acreditar em seus sonhos. E o país de onde venho é o mesmo que você deseja estar, quando acredita  que não existe mais um lugar seguro para você neste mundo. Portanto lhe digo: acredite em você e saiba que poderá se tornar uma pessoa realizada, desde que acredite em seu potencial e saiba que ele é capaz de levar-lhe para onde você desejar.

Alice, de repente, se viu novamente diante do espelho do banheiro. Sabendo que tinha muito ainda para entender sobre o acontecido, lavou rapidamente o rosto e dirigiu-se ao portão da escola, onde sua avó estava lhe esperando com os braços estendidos para abraçá-la.


Achei que o tema tinha tudo a ver com os produtos que desejo mostrar-lhes agora e que desenvolvi e produzi para uma marca infanto-juvenil de luxo recém-lançada nos Jardins, SP, chamada DHUIF.
Participei do projeto desde o início, já que o meu trabalho era conhecido por uma das sócias há bastante tempo. Desde então já fizemos várias etiquetas para cada umas linhas da marca, além de termos produzido,até o momento, três peças em metal das quais muito me orgulho de tê-las feito.

A etiqueta em destaque faz parte da linha COUTURE, feita basicamente de vestidos de festa pra lá de luxuosos. Veja aqui a riqueza da etiqueta, criada por mim, e cujas bordas têm um desenho muito especial.


A primeira plaquinha apresentada é esta vazada,com a logo, que é o Espírito Santo, inserido no centro. Produzimos a mesma em dois banhos: níquel e ouro.


Ela está sendo aplicada nestas necessaires de plush feitas em cores fluorescentes e também em detalhes de peças, como t-shirts, calças, saias e vestidos.


A segunda peça é este pequeno rebite, em níquel, com a logo em alto-relevo, que está sendo aplicado em detalhes de sapatilhas como camélias de tecido, e também em calças e shorts, em pontos estrategicamente posicionados.


A terceira peça incluirei no post assim que as sapatilhas da nova coleção de Inverno estiverem chegado à loja. Trata-se de uma linda placa, feita em três banhos, que adornará o cabedal das sapatilhas.