31 de jan. de 2012

Sorte de quem tem uma Joaninha


Quando eu era garoto, vivia ouvindo que eu era um garoto de pura sorte. Alguns diziam que a sorte estava ao meu lado. Outros, que havia nascido com o (xx) virado para a Lua.

sortudo, já aos 2 anos

Ficava ali pensando o que me fazia um garoto de sorte. Ter pais que me amavam, se preocupavam comigo e cuidavam para que nada me faltasse?


Na foto acima, da esquerda para a direita: o sortudo, minha mãe com meu irmão caçula, André, no colo, e Guto, o primogênito.

Ter dois irmãos - um mais velho e outro mais novo - que à noite, já deitados em nossas camas e prontos para dormir, pegávamos nossas lanternas e nos enfiávamos embaixo dos cobertores brincando de caverna mal-assombrada?


Ou será que tinha sorte porquê gostava de uma menina cujo nome era Joana e a chamavam carinhosamente de Joaninha? Acho que estava mais por aí. Joaninha tinha a pele muito branquinha e o rosto coberto por sardas. O cabelo era escuro e levemente encaracolado. Não era eleita a menina mais bonita da sala. Mas para mim, ela era a mais bela. Desde cedo notara que o meu conceito de beleza não era propriamente o conceito clássico da mesma. Beleza, naquela época, era se ter olhos claros - de preferência azuis - e cabelos claros - de preferência loiros. Mas voltemos à Joana. Ou melhor, Joaninha. O meu amor por ela, infelizmente, não era correspondido. Talvez por também à época não ser o menino mais bonito da sala. À bem da verdade, não estava nem entre os dez mais.

eu, com a turma, marcado por uma joaninha

Mas isso não vem ao caso. O que valia mesmo, era saber que realmente eu era o que os demais me diziam: um menino de sorte: afinal, a garota dos meus sonhos chamava-se Joaninha e tinha o rosto coberto de sardas, que mais se pareciam com pequenas joaninhas. Você quer sorte maior?


O tecido em questão foi desenvolvido à pedido de Dora, proprietária da marca de roupas femininas ANNEXE.

fotografei este broche que deu partida à estampa: os traços são de Dora.

O objetivo é que fosse usado nos acessórios da coleção de verão de 2012, como carteiras e bolsas. A produção acabou não rolando, porém o resultado ficou muito bom. O tecido foi feito inteirinho com fios de lã nas cores off-white, preto e pimenta. O fundo tem sarjas na diagonal.


Ah, e se hoje você me perguntar se me considero um homem de sorte, a resposta é sim. Trabalho no que gosto; com quem gosto e tenho clientes dos quais muito me orgulho. Quer mais? Acredito que a sorte ainda vai pousar no meu dedo em forma de Joaninha. Você duvida?

28 de jan. de 2012

O tricô de Penélope, Nena e tantas outras

Penélope, obra de Tatiana Blass

O tricô. Este é o tema do tecido feito para a SANTA LOLLA para ser usado nas bolsas da coleção Verão 2012. O resultado é surpreendente, tendo sido produzido em duas variantes de cores: fundo laranja com bordado em fuccia, docemar e cobre metálico; e fundo gengibre claro e bordado em mousse, água e bronze metálico.


Veja que lindas bolsas e sapatilhas foram feitas com os tecidos:


Aproveito a deixa para tecer algumas linhas sobre o tema.
O tricô tem a sua origem provável no Egito.


Ganhou o mundo nas mãos de Penélope (Odisséia, de Homero) que - segundo a mitologia grega - tecia uma mortalha de dia, para desfazê-la à noite, passando-se assim o tempo, à espera do retorno de seu amado Ulisses, que fora lutar na Guerra de Tróia.


Já em nossos dias, o tricô foi associado - principalmente - ao trabalho manual de nossa avós, tias e mães, que passavam longas horas tricotando (e a bem da verdade, fofocando) lindos sapatinhos, mantas, cachecóis, gorros e casaquinhos que pudessem aquecer o inverno de seus netinhos, filhos e sobrinhos, além das criancinhas carentes, por elas nunca esquecidas.


Na foto acima, da esquerda para a direita: Vovó Rosa (mãe de papai); D. Ruth (mãe de Adriana); Vovó Maria (avó da Adriana) e Vovó Nena. As vovós Rosa e Maria já estão tricotando nuvens no Céu

Faço aqui - em particular - uma justa homenagem à minha querida avó Nena (na certidão de nascimento Tereza), a quem passei grande parte de minha infância, adolescência e vida adulta, vendo-a horas a fio a tricotar na varanda sozinha ou na companhia da sobrinha Dinorah ou de sua amiga Benigna. Ainda a tenho por perto, aos 95 anos, mas acho que por um tênue fio de lã. A linda vida tecida parece que está prestes a ser concluída. Segura firme as agulhas, vovó!


SINFONIA DO TRICÔ

Vai uma agulha pra lá,
Volta uma agulha pra cá
Traça um ponto aqui,
Faz outro ponto lá
De ponto em ponto vão surgindo os casaquinhos,
cachecóis e sapatinhos
E as mãos da vovó vão conduzindo as agulhas feito uma maestrina
que rege as encomendas que não param de chegar,
vindas dos bebês que não se cansam de nascer
Esta é a sinfonia do tricô

Andando na Vila Madalena, deparei-me com esta árvore que tem o seu caule todo coberto de pontos de crochê/tricô em diversas cores de fios. Ela fica em frente a um charmosa loja/café/escola, a Novelaria Knit Café. Trata-se de um grafite do tricô.

26 de jan. de 2012

Vista para o mar


Prédios. Poeira. Poluição. Ruido sonoro. Gente. Multidão. Se não em todo lugar, pelo menos é assim que vivemos na cidade de São Paulo. Isto não é uma crítica, mas uma realidade.


A gente olha pela janela e enxerga o que? Uma imensidão de janelas, janelinhas e janelões em prédios hora luxuosos, hora de classe-média (alta ou baixa), hora os Singapuras da classe situada na base da pirâmide social (para não dizer pobre), ao lado dos casebres que formam as favelas.


São Paulo não é para qualquer um. Tem que gostar. Tem que querer. Tem que precisar. Tem que amar. É verdade que existem os pulmões verdes como os parques Ibirapuera, do Carmo, Burle Max, Villa Lobos, Aclimação etcetera; mas ainda são muito poucos. Na região central onde moro, tem uma área verde ensaiando para virar parque, porém a gente ainda não sabe se os órgãos governamentais vão ceder à especulação imobiliária. Esta área fica na esquina da Rua Augusta, em frente ao antigo Grand Hotel Ca'd'Oro e hoje, futuro grande empreendimento Ca'd'Oro. Foi neste hotel em que me casei em 1992 e ofereci uma bonita recepção aos meus convidados. Na época, o Ca'd'Oro ainda ostentava o requinte conquistado nos anos anteriores. Muitos ainda se lembram saudosos do restaurante de nível internacional que funcionava ali. Dizem que o glamour do passado vai ser resgatado neste novo empreendimento. É esperar para ver.


Agora vamos falar do tecido feito para BIANCA RANUCCI, nossa já aqui habitué designer, com seus tecidos que vestem lindas criações. A base dele é o cetim, com o desenho formando um verdadeiro mar de prédios, onde se destacam uma infinidade de janelas.


Se você tentasse fazer aqui  aquele joguinho de encontrar Wally, certamente ficaria a ver navios. Foram produzidas três variantes: fundo off-white com o bordado em preto; fundo salmão com bordado salmão e fundo azul marinho com bordado em marinho. O cetim que produzo tem por característica deixar aquarelada a cor de fundo, dando destaque à cor de bordado, sempre mais intensa. Conseguimos neste tipo de trabalho o que chamamos de tom-sobre-tom.

A imagem de cima mostra um vestido de Bianca feito com o tecido: site CHIC, DE GLÓRIA KALIL.
O recorte de baixo é da F. DE SÃO PAULO e mostra Bianca adornada com o tecido.


E para não perder o costume, até porque o meu olhar escorrega para eles quando ando pelas ruas, vou apresentar um grafite que - quando o vi - na hora entendi que o mesmo fala a mesma linguagem do tecido de Bianca.


Podemos enxergar nele a mesma imensidão de prédios e janelas. Agora, neste momento, ocorreu-me que este cenário é um prato cheio para os chamados voyeurs de plantão. Posso até imaginá-los dependurados em suas janelas com aqueles binóculos de lente alaranjada vendidos nos faróis pelos camelôs.
E já que também falamos de São Paulo, não posso deixar de parabenizar a minha cidade, que faz aniversário hoje, 25 de Janeiro. São Paulo, eu te amo, mesmo cinzinha e sujinha e, às vezes, mal-cheirozinha que - verdade seja dita - você é. Como presente, deixo aqui uma música cujo autor, intérpretes e conteúdo representam a cara e a alma da cidade.

24 de jan. de 2012

Uma bóia. Duas meninas. O mar.


Uma pequena introdução:

Este texto foi construído a partir das imagens captadas por meu I Fone  de duas meninas brincando na praia ao final da tarde, dividindo uma linda bóia cor-de-rosa.


O tempo. Fico aqui pensando que a vida tem um tempo. O tempo de brincar. E o tempo de aprender. O tempo de errar. E o tempo de acertar. Em que tempo estou? Penso que no tempo de rever, de reavaliar, de repensar, de vir e voltar a ser. Escrevo estas linhas enquanto vejo no visor de meu I Fone uma das fotos que tirei na praia de duas meninas a brincar com uma bóia translúcida rosa.


 A imagem, por si só é linda. O rosa é a cor da feminilidade. Traz em si uma conotação de fragilidade. Elas estão no tempo de ser cuidadas, olhadas. De ser respeitadas e ouvidas. A cor da bóia que acompanhará suas vidas irá aos poucos mudando de cor. Virá o vermelho da paixão; virá o cinza dos dias chuvosos e duvidosos; virá o amarelo do dinheiro farto; infelizmente também virá o preto do luto; mas certamente também virá o laranja da vida agitada e os tons pastéis dos momentos suaves e serenos. A cada passagem de ano virá a bóia branca das energias renovadas, do recomeçar e do voltar a ter esperança. Na vida, sempre nos será oferecida uma bóia; uma bóia que vai nos salvar de muitas situações difíceis e uma bóia que poderemos oferecer a um novo amor para que siga conosco, boiando pelas águas do oceano. É muito bom dividir uma bóia. É muito bom mantê-la equilibrada por dois bracinhos que seguem e olham na mesma direção; para um mesmo horizonte.


Hoje, Segunda-Feira, 23 de Janeiro, retornarei à São Paulo depois destes dias maravilhosos no Rio. Nunca os esquecerei e eles - certamente - farão parte da bóia cor-de-rosa de minha vida.

As meninas e sua bóia fazem parte da paisagem.

21 de jan. de 2012

Para São Sebastião nada. Tudo!!!


Estamos, eu e minha filha, há três dias no Rio. Nosso programa diário é irmos até Ipanema para passarmos longas horas tomando banho de sol e mar; não necessariamente nesta mesma ordem.


A cidade está repleta de turistas, como já era de se esperar. Até parece que o idioma oficial é o inglês, além do espanhol, italiano, alemão e outras línguas da zona do Euro.


Estou impressionado com a segurança das ruas e a tranquilidade com que se caminha por aqui. Nada daquela balas perdidas que vira e mexe vemos nos telejornais. Por aqui só vejo casais apaixonados dando beijos melados, crianças a correr pela praia, amigos tomando cerveja e jogando conversa fora e outros a correr, andar de skate e bicicleta pelas ciclovia da orla. A cidade está vestida de cores, seja nos maiôs, sungas e biquínis que passeiam por todos os cantos, seja no colorido das estampas das cangas e saídas de praia que são expostas nas areias, nas calçadas e também vendidas na praia pelos vendedores ambulantes.


Hoje resolvi dar uma perambulada pela Lapa e ir conhecer os famosos arcos da Lapa. Eles realmente são lindos.


Vê-se que a região está sendo totalmente remodelada e reconstruída.


rédios históricos como o Conservatório Cecília Meirelles, casarões e Largo estão em obras. Fico pensando que o governo já está trabalhando de olho na Copa que já está próxima. Aproveitei para tirar fotos de grafites que vi pelas ruas do bairro. É incrível como eles têm a cara desta cidade. Podemos ver malandros...

passistas e sambistas...


banhistas...


meninos "brejeiros"...


e até casais apaixonados.


Hoje, 20 de Janeiro é dia de São Sebastião do Rio de Janeiro. Vou rezar para ele deixar eu voltar aqui muitas outras vezes. Se pudesse dizer uma só palavra que descrevesse a cidade, diria: o Rio é energético. Deixa a gente ligadão. Sentado em minha cadeira, aproveitei o tempo livre para desenhar em meu moleskine o que via pela frente. Veja o resultado em três desenhos feitos; um em cada dia.


PS: Desta vez todas as fotos são minhas!